Incrivelmente, menos de uma semana após o anúncio do aumento tarifário global, Trump já adiou a entrada em vigor de parte dessas tarifas.
No entanto, continuam em vigor alíquotas importantes sobre automóveis e está se intensificando a guerra comercial com a China, com um aumento da alíquota para esse país de 145%. A China não ficou de braços cruzados e respondeu. A única certeza é que veremos um mercado muito volátil nos próximos meses.
Mesmo assim, se essa situação se mantiver, é muito provável que vejamos uma forte desaceleração do crescimento, especialmente nos Estados Unidos e na China.
Isso implica uma menor demanda por borracha natural, o que gerou a maior queda semanal de seu preço em anos.
Como ficaram as tarifas?
Vamos recapitular:
i) Todos os países enfrentam uma alíquota de 10% para ingressar na China.
ii) A borracha natural, como matéria-prima, ficou isenta, mas não seus manufaturados.
iii) As tarifas adicionais sobre os países com os quais os Estados Unidos tinham maior déficit estão temporariamente suspensas até julho.
iv) Para automóveis e autopeças continua vigente uma alíquota geral de 25%, assim como para importações do México e do Canadá; produtos vinculados ao tratado de livre comércio entre Canadá, México e EUA não são afetados.
v) Para a China, a tarifa efetiva é de 145%. A China já respondeu com tarifas de 85% e vendendo títulos do Tesouro americano para forçar a queda dos seus preços.
E agora, como isso continua?
É impossível saber. Muitos governos manifestaram a intenção de negociar, e Trump parece um pouco mais disposto a isso (inclusive sugeriu a possibilidade de sentar à mesa com a China).
Essa forma de negociação parece típica de Donald Trump, embora as fórmulas tarifárias anunciadas (baseadas no déficit e não nas alíquotas aplicadas) tornem as negociações ainda mais complexas. Além disso, negociar separadamente com cada país levaria muito tempo.
Por isso, não descartamos que em julho voltemos à mesma situação, como já aconteceu com as tarifas para o Canadá e o México, que quando tiveram uma isenção temporária, de fato foi temporária.
Qual é o impacto e por que é tão forte sobre a borracha?
As novas barreiras geram um aumento de custos em boa parte das cadeias globais de valor, resultando em menor renda e uma alocação ineficiente de recursos, desacelerando o crescimento global.
Nos Estados Unidos, já se projeta quase 50% de chance de recessão.
Apesar de estar excluída diretamente das tarifas, a borracha natural foi um dos produtos com maior queda na cotação (-11% em uma semana). Isso ocorre devido à alíquota particularmente elevada sobre o comércio de automóveis e autopeças, além da queda do petróleo, insumo-chave para a produção de borracha sintética.
Neste último caso, o colapso nos preços (de quase USD 75 para valores entre USD 60 e 65 por barril) se deve não apenas ao aumento das tarifas, mas também à decisão da Organização dos Países Exportadores de Petróleo de acelerar o aumento da produção em maio.
Por fim, cabe destacar que a China será um dos países mais afetados, pois atualmente é o principal alvo da guerra comercial com os EUA.
A economia do Gigante Asiático vinha crescendo rapidamente (a indústria teve em março seu melhor desempenho em um ano), mas após os últimos anúncios, algumas agências de classificação de risco já estão revisando suas projeções de crescimento para o restante do ano.
O excesso de capacidade e a queda na demanda devido às novas tarifas dos EUA estão pressionando as tarifas do transporte marítimo para baixo.A isso se soma a queda nos preços dos combustíveis ligados ao petróleo, o que reduz os custos de produção em um primeiro momento e, nesse contexto, pode ser repassado aos preços.
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